OS GATOS DEIXAM PEGADAS NO NOSSO CORAÇÃO

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O pretinho azarento

 

Era uma vez uma gatinha tigrada que deu à luz uma ninhada de 4 encantadores gatinhos.

Três deles pareciam-se com a mãe como duas gotas de água, mas o quarto era preto. Todo preto.

Na quinta onde viviam, a mulher do lavrador não gostava de gatos pretos: " Toda a gente sabe que dão azar!", dizia ela.

Assim, enquanto os três irmãos desfrutavam de fôfas almofadas, o nosso gatinho preto nem sequer tinha o direito de entrar em casa. Bem podia arranhar o vidro da janela, miar atrás da porta até não poder mais, era sempre corrido ao pontapé.

Lira e Falua

Então, um dia, decidiu partir em busca de um lar mais acolhedor.

Corajosamente, pôs-se a caminho pelos campos, alimentando-se como podia. E sempre que via uma luz ao longe, aproximava-se da casa com o coração cheio de esperança. Mas era infalivelmente escorraçado.

Nas aldeias que percorria, as crianças atiravam-lhe pedras: "Vai-te embora... dás azar...". Sempre as mesmas palavras, que ele não compreendia!

E, num dia de Inverno, o gatinho preto percebeu que nunca ninguém o aceitaria, que ficaria sempre sozinho. Tinha acabado por perder a esperança.

Então, viu uma luz ao longe e dirigiu-se para ela com o coração pesado, pois sabia que assim que o encontrassem seria escorraçado. Mas queria um cantinho quente para estar tranquilo, dormir em paz, e nunca mais acordar!

Aproveitando a escuridão, instalou-se ao fundo do celeiro. Mal tinha acabado de se deitar, qual não foi o seu espanto quando sentiu uma mão aproximar-se dele. Encolheu-se, pensando que iria uma vez mais ser agarrado e posto na rua. Bem tentou fazer-se pequenino, mas a mão aproximou-se e acariciou-o docemente. Durante muito tempo, muito tempo.

O gatinho, apesar de muito triste, não se pôde impedir de ronronar. Nunca tinha sentido a doçura de uma carícia no dorso. Depois, de repente, sem que o esperasse, a mão ergueu-o e tirou-o do esconderijo.

Baguera
- "Mãe, mãe, olha o que encontrei no celeiro. Podemos ficar com ele... por favor mãezinha..."
- "Oh! mas é um gatinho amoroso! Deve ter sido abandonado, tal é o seu estado. Claro que podes ficar com ele, mas tens de cuidar dele. Que nome lhe vais dar?"
- " Não sei... Como é que ele é?"
- "É um gatinho todo preto, com grandes olhos verdes".
- "Então chamar-se-á Pretinho".
- "Acho que esse nome lhe fica muito bem. Vai-lhe mostrar o teu quarto".


Bebé Gypsie


O nosso gatinho estava tão contente... tinha finalmente encontrado um pouco de calor. Um lar onde se ocupariam dele e onde seria amado. Quanto amor iria também dar à sua nova e pequenina dona!

Nessa noite, quando descia muito devagarinho à cozinha para comer mais um pouco, ouviu um homem e uma mulher que falavam. Pôs-se à escuta, com o coração a bater "que não o escorraçassem uma vez mais".

- "Não achas que a nossa filha tinha um ar feliz esta noite?"
- "Sim, estava feliz. Encontrou um amigo. Alguém de quem poderá ocupar-se. Um gatinho preto que parece abandonado. Vamos ficar com ele, sinto que lhe vai dar sorte!"

E, desde esse dia, a menina cega e o gato preto tornaram-se inseparáveis.

 

Se encontrar um dia, num canto do jardim, um gatinho todo preto, faça-lhe uma carícia com os olhos fechados. Verá que, seja qual for a côr do seu pêlo, ele não é menos sedoso, e que o amor que lhe dará não é menos profundo.


Texto de Shalimar         
Tradução: Gatos Livres          
Original em http://maisondelespoir.free.fr/lenoireauportemalheur.htm